Posted on July 20, 2018
Como as empresas do país têm reduzido custos e aumentado a produtividade através da IA.
Segundo Salim Ismail, coautor do livro “Organizações Exponenciais”, há um conflito entre homem e tecnologia: enquanto a intuição social e a educação formal são moldadas para fazer associações lógicas lineares, a produção e o compartilhamento de dados crescem exponencialmente. A fricção entre pensamento linear e pensamento exponencial é decorrente do crescimento da internet e é necessário que as pessoas construam relações de pensamento diferentes. Isto é natural, sobretudo quando pensamos que, em 2001, 400 milhões de pessoas estavam conectadas à internet e, em 2015, o número subiu para 3,2 bilhões de usuários.
As empresas, por sua vez, iniciaram os processos de transformação digital para acompanhar o pensamento e o comportamento das novas gerações de consumidores. Essas transformações se dão através de Inteligência Artificial (IA), um ramo da ciência da computação que trabalha a eficiência de dispositivos em simular as capacidades humanas de raciocínio, percepção, deliberação, aprendizado e decisão. Estudos internacionais indicam que a aplicação de IA gera um aumento, em média, de 40% na produtividade das empresas. No varejo o ganho chega a 60%, acelerando a tomada de decisões e a prospecção de novos clientes.
Na prática empresarial brasileira os orçamentos aumentaram
No Brasil, um dos setores que se destaca pelo uso da Inteligência Artificial é o bancário. Segundo a pesquisa da empresa alemã GFT, 30% das instituições bancárias brasileiras veem a importância da IA, superando países como Reino Unido e México (23%) e EUA (17%). O caso mais conhecido é o do Banco Bradesco que desde 2014 investe no Bradesco Inteligência Artificial (BIA), um sistema baseado no Watson, da IBM, que atualmente realiza cerca de 4,5 mil interações por hora. De 2017 para 2018 o banco dobrou o seu orçamento destinado à IA.
Outra empresa que dobrou o seu orçamento de IA para 2018 foi a Gol Linhas Aéreas Inteligentes. A Smiles, empresa do seu programa de relacionamento, utiliza Inteligência Artificial para responder às perguntas dos clientes nas redes sociais e para emitir passagens.
A White Martins, empresa que atua na fabricação e distribuição de gases industriais, também tem obtido sucesso no uso da inteligência artificial e aumentou o seu orçamento de 2018 em cinco vezes, comparado ao de 2017. Ela utiliza a IA para fazer previsão de estoque e para identificar a fadiga dos motoristas através da análise de dados comportamentais, como sinais de cansaço e a quantidade de vezes que o profissional pisca os olhos.
No setor de telefonia, a Vivo lançou no Brasil a sua assistente digital AURA, que faz parte de esforços globais para melhorar o relacionamento com os clientes, despontando como a primeira operadora a oferecer uma ferramenta de relacionamento toda baseada em inteligência cognitiva.
O Poder das Startups
A medida que as empresas brasileiras se conscientizam da importância de um orçamento próprio para a aplicação de Inteligência Artificial, promovendo redução de custos e aumento de produtividade, os números crescem no país. Segundo estimativas da Gartner, os gastos com IA no Brasil, em 2017, foram de US$ 182,5 milhões.
Apesar de uma expectativa de crescimento exponencial desse número em 2018, o Brasil ainda perde em termos de liderança no uso de tecnologia para países da América Latina como México, Colômbia, Peru e Argentina.
O baixo investimento brasileiro, comparado aos países vizinhos, pode ser explicado pela dificuldade que muitas empresas têm de entender como usar a inteligência artificial. Além disso, grandes organizações, normalmente, têm menos flexibilidade e agilidade para criar soluções inovadoras. Deste modo, muitos bancos e empresas de seguros, por exemplo, estão criando as suas próprias incubadoras de startups, que despontam como o ponto chave do setor no Brasil.
Segundo estudo do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), as conexões inteligentes deverão injetar cerca de US$ 200 bilhões na economia brasileira até 2025.
Em desenvolvimento
Os esforços coletivos têm sido realizados em prol da IA no País. Em 2017, nasceu a Associação Brasileira de Inteligência Artificial (ABRIA), criada por um grupo de 16 empresas com atuação no setor, objetivando mapear iniciativas brasileiras, ajudar a formação de mão de obra especializada e promover a troca de informações entre empresas nacionais e internacionais. Também podemos acompanhar nos últimos anos o crescente número de aceleradoras e parques tecnológicos pelo país.
No campo acadêmico, existe interesse pelo assunto há décadas, atraindo pesquisadores de pós-graduação. Os eventos sobre IA têm forte presença brasileira e publicações têm acontecido, sobretudo nas áreas de ciências biológicas, linguística e direito.
Ausência Legislativa
Apesar do crescimento do setor, a ausência de uma legislação específica para a Inteligência Artificial ainda é um problema no Brasil, tendo em vista a indubitável importância de uma regulação para promover o seu desenvolvimento. Constantemente questões éticas são levantadas, diante da ausência de regras sobre como proceder em várias situações. Como exemplo, temos o caso do WhatsApp sendo bloqueado pela justiça brasileira. Não há consistência do poder do Estado neste caso e ele se torna um processo de negociação social.
Ainda existe uma mítica equivocada de que regulações, no caso da tecnologia, são um fator limitador para a criatividade e a inovação. É importante salientar que na sociedade contemporânea o conceito de desenvolvimento vai além do crescimento econômico. As democracias atuais também estão preocupadas com a inclusão de camadas da população como mulheres, negros e LGBTQ+. Há casos nos quais a tecnologia foi “racista, misógina e preconceituosa”: sistemas de ar-condicionado ajustam automaticamente a temperatura do ambiente sem considerar o metabolismo feminino; Câmeras inteligentes identificam quando uma pessoa está de olhos fechados em uma imagem, mas não funcionam com asiáticos; Aplicações categorizam orientações sexuais através de preferências de navegação; Algoritmos de reconhecimento facial associaram imagens de negros com imagens de macacos.
Futuro
O aumento de investimentos em Inteligência Artificial pelas empresas cresceu exponencialmente em 2018 e a tendência é que continue a evoluir nos próximos anos, visto que o setor ainda dá passos modestos no Brasil. É necessário abrir mais espaço para inovar dentro das organizações, através da formação de times multidisciplinares para o maior uso da tecnologia. Além disso, em um país diverso como o Brasil, é importante que se priorize uma construção legislativa que exija boas práticas e promova inclusão. Este é um passo importante para o futuro do país.
Acompanhe mais conversas sobre assuntos como esse no InEvent Future Talks:
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